Perguntas frequentes sobre as diferenças entre respeito pelos animais e ambientalismo

Perguntas frequentes sobre as diferenças entre respeito pelos animais e ambientalismo

18 Jul 2023

P: Qual é a diferença entre considerar os interesses de todos os seres sencientes e as visões ambientalistas?

R: Considerar os interesses de todos os seres sencientes significa levar em conta como nossas ações podem impactar positiva ou negativamente o bem-estar de todos os indivíduos capazes de sentir e perceber. Até o momento, todos os seres sencientes pertencem ao reino animal, mas caso isso mude no futuro (por exemplo, se a senciência não orgânica se tornar uma realidade), considerar os seres sencientes implicaria considerar esses seres também.

O ambientalismo, por outro lado, é focado no equilíbrio ou na sustentabilidade dos ecossistemas, das espécies e do planeta como um todo. Embora o ambientalismo esteja preocupado com questões como perda de biodiversidade, poluição e esgotamento de recursos naturais, não prioriza os interesses dos seres sencientes, especialmente dos animais não humanos. O ambientalismo aprovaria ações que prejudicam os animais caso elas ajudem a alcançar metas como proteger espécies ou habitats ameaçados.

Em suma, a principal diferença se resume entre priorizar o bem-estar dos indivíduos ou o assim chamado “equilíbrio do ecossistema”, que geralmente se refere a uma configuração do ecossistema que os humanos preferem. A consideração por todos os seres sencientes visa proteger os indivíduos e os recursos dos quais eles dependem. Já o ambientalismo pode desconsiderar os indivíduos em prol de manter os ecossistemas em certa configuração e outras preocupações ambientalistas. A diferença é mais importante para os animais selvagens, que podem sofrer com as políticas ambientalistas, mas podem ser beneficiados em uma estrutura que considera os seres sencientes.

P: O que é holismo ético e como ele se relaciona com o debate entre respeito pelos seres sencientes e ambientalismo?

R: O holismo ético é a visão de que totalidades ou sistemas como espécies ou ecossistemas têm valor intrínseco, isto é, um valor que é independente do (ou mesmo maior do que o) valor dos indivíduos que os compõem. O valor é atribuído à totalidade em si, não aos interesses ou bem-estar de seus membros. Nessa visão, os indivíduos podem até ser sacrificados com vistas a se manter o todo em determinada configuração (por exemplo, devido a essa configuração ser mais rara, mais complexa ou por conter apenas a flora e a fauna nativas) mesmo quando isso for pior para os seres sencientes que ali vivem).

P: O que é um ecossistema?

R: Um ecossistema é um sistema formado pelas interações que um grupo de organismos vivos possuem entre si e com os fatores físicos do ambiente em que vivem. Inclui a terra, a água e o ar, bem como as plantas, animais e microorganismos que os habitam. Os ecossistemas estão em constante mudança. Visto como um todo, é possível que um ecossistema seja danificado, mas como não é senciente, não é possível que seja prejudicado.

P: Qual é a diferença entre respeito pelos animais e ecocentrismo?

R: O respeito aos animais, que nasce de uma ética centrada na senciência, foca em como devemos agir em relação aos animais não humanos, pois nossas ações e decisões podem afetar seu bem-estar. O ecocentrismo atribui valor intrínseco aos ambientes naturais e vê um ecossistema como sendo composto por partes funcionais. De acordo com o ecocentrismo, os seres sencientes são meramente componentes de um ecossistema, possuindo apenas valor instrumental na manutenção do ecossistema. Ou seja, seu bem-estar não é considerado importante em si.

P: Qual é a diferença entre um ser senciente e uma coisa viva?

Nem todos os seres vivos são sencientes, e os seres sencientes podem incluir entidades não vivas, como inteligências artificiais.

Seres sencientes são entidades que podem ter experiências subjetivas, formar interesses e perceber ou interagir com o mundo de alguma forma. Isso inclui entidades biológicas como animais e possíveis seres alienígenas biológicos que podemos vir a encontrar no futuro. Esses seres possuem mecanismos biológicos para terem experiências e sensações que geram interesses e preferências.

Os seres sencientes podem um dia incluir sistemas artificiais avançados que foram projetados ou evoluíram para ter suas próprias experiências virtuais, interesses baseados em códigos e processos perceptivos simulados. Em vez da biologia, suas experiências emergiriam da programação e dos algoritmos.

Os seres vivos são simplesmente todas as coisas biológicas. Isso inclui animais, plantas, fungos e microorganismos. Entre os seres vivos, apenas os animais são sencientes.

P: Por que adotar a senciência como critério para consideração moral em vez de considerar todas as coisas vivas (biocentrismo)?

R: Os seres sencientes podem ter experiências subjetivas que são boas ou ruins, o que significa que podem sofrer ou desfrutar de suas experiências. Um ser vivo, por outro lado, é simplesmente uma entidade biológica. Exemplos são animais, árvores, plantas e microorganismos. Muitos animais são sencientes, mas outros seres vivos, como plantas e microorganismos, não são. De acordo com a ética animal, apenas os seres sencientes importam em si mesmos, porque somente eles são capazes de ser prejudicados. Danificar outros seres vivos é ruim apenas na medida em que afeta o bem-estar dos seres sencientes. Por exemplo, destruir plantas das quais os animais dependem para se alimentar prejudica esses animais.

P: Como uma espécie difere dos indivíduos?

R: Uma espécie é uma entidade abstrata que agrupa animais que compartilham certas características, composição genética e outros fatores, como a capacidade de entrecruzar. Uma espécie não é uma entidade senciente capaz de ser prejudicada.

Uma espécie também não é a soma de seus membros, o que significa que priorizar uma espécie não significa priorizar o bem-estar da maioria de seus membros.

Às vezes, os animais são considerados apenas como exemplares de uma espécie, mas isso é desconsiderar o bem-estar desses animais. A ética animal coloca o foco nos indivíduos sencientes, porque somente eles são passíveis de ser prejudicados.

P: A biodiversidade é boa para o bem-estar dos animais?

R: A biodiversidade não é necessariamente boa para o bem-estar dos animais. Pode ser ou não, dependendo da situação. Do ponto de vista do bem-estar dos indivíduos sencientes, a biodiversidade não é ruim nem boa em si. Pode ser prejudicial quando, por exemplo, um maior grau de biodiversidade resultar em uma maior quantidade de sofrimento do que ocorreria com menos  biodiversidade. A biodiversidade pode ser “boa para um ecossistema”, mas isso não nos diz nada sobre se ela é boa para indivíduos sencientes.

Isso depende de como a presença de um maior ou menor grau de biodiversidade afeta o bem-estar dos seres sencientes que vivem em um ambiente natural (por exemplo, depende de como afeta o suprimento de comida e abrigo, os conflitos entre os animais e quantos animais morrem quando são ainda muito jovens).

Isso significa que, se nosso objetivo é o melhor para os seres sencientes, ao avaliar suas situações, é melhor confiar em fatores diretamente relacionados ao seu bem-estar, como alimentação e segurança física, e não no grau de biodiversidade.

P: Se uma prática é ecologicamente sustentável, isso significa que é boa para os animais?

R: A sustentabilidade foca em agir de maneiras que não esgotem os recursos, incluindo os recursos ambientais. A sustentabilidade geralmente considera apenas o bem-estar e as preferências humanas, mas poderia incluir os outros seres sencientes se assim o quiséssemos. Normalmente, as perspectivas ambientalistas voltadas para a sustentabilidade consideram os animais não humanos como recursos, não como indivíduos que devemos respeitar. É por isso que existem práticas que são sustentáveis, mas que causam muito sofrimento e morte aos animais não humanos. É o caso, por exemplo, da pesca e da caça, que são sustentáveis desde que praticadas de forma a não ameaçar o estoque de recursos (neste caso, os animais não humanos, que são vistos por essa perspectiva como meros recursos).