O caminho de um animal para o abatedouro é um processo muito estressante e pode causar sua morte durante o percurso. Embora possa ser argumentado que a morte é inevitável porque o animal já vai morrer no abatedouro de qualquer maneira, o fato de ele ser tão vulnerável a perecer no caminho nos dá uma ideia do quão terríveis são as condições da viagem e do que ele deve passar durante ela.
Algumas fatalidades durante o transporte ocorrem devido ao calor ou a quedas, porém, em muitos casos, os animais sofrem ataques cardíacos fatais devido ao alto nível de estresse resultante das condições de transporte.
Além do estresse de estarem em um ambiente desconhecido, os animais enfrentam desafios únicos durante o caminho, incluindo:
Aves (frangos, galinhas, perus, gansos, patos) são agrupadas e colocados em caixas onde mal podem se mover. As caixas são empilhadas umas em cima das outras, de modo que os animais que ficam nas partes inferior e central do caminhão sofrem com maior falta de ventilação e com grande superaquecimento. Aqueles que ocupam a parte superior sofrem mais por serem expostos a condições meteorológicas severas.
Fraturas nos ossos das pernas, quadris e asas são normalmente mais frequentes durante o transporte, principalmente durante a carga e descarga. As equipes responsáveis pela captura e carga das aves no caminhão normalmente precisam carregar cerca de 1.000-1.500 animais por hora. Os animais são pegos pelos membros e rapidamente colocados, algumas vezes jogados, nos recipientes de transporte, o que frequentemente causa fraturas ósseas e hemorragias internas1. Os animais devem continuar a já dolorosa viagem apesar desses ferimentos2. As extremidades das aves também podem ser feridas se ficarem presas numa posição incômoda nas grades, causando lesões e desconforto.
Aves poedeiras, principalmente aquelas criadas em gaiolas em bateria, são as mais propensas a sofrer fraturas ósseas durante o transporte3. Isto ocorre porque elas passam a vida inteira confinadas em gaiolas sem a possibilidade de mover suas asas ou exercitar seus músculos, fazendo com que seus ossos se tornem fracos e frágeis4. Estas más condições de vida resultam em uma taxa de mortalidade de 26% entre galinhas5 e 15% entre frangos machos6.
A grande quantidade de animais que morrem durante o transporte nos dá uma ideia de como a experiência durante o caminho para o abatedouro deve ser. O estresse é o maior fator que contribui para as mortes desses animais durante a viagem. Estima-se que 47% dos casos de mortalidade de animais são resultantes de insuficiência cardíaca ou ataque cardíaco. Trinta e cinco por cento dos casos podem ser atribuídos a um trauma, incluindo fraturas ou deslocamentos dos quadris (76%), hemorragias no fígado (11%), e golpes na cabeça (8%)7. Várias pesquisas apontam uma relação entre a presença de altos níveis de hormônios relacionados ao estresse durante o transporte das aves até suas mortes8.
A carga e a descarga e os momentos iniciais da viagem são as partes mais estressantes para as ovelhas9. A carga exige proximidade com humanos e isto pode assustar os animais, que não são acostumados com o contato humano.
Assim como as aves, as ovelhas podem ferir-se durante o processo de carga e descarga devido à necessidade de colocar os animais dentro e fora dos caminhões rapidamente. As ovelhas são frequentemente apreensivas durante o processo e resistem a serem colocadas e retiradas dos caminhões. No passado, as ovelhas eram atingidas com aguilhões elétricos, especialmente em áreas sensíveis, como olhos, boca, abdômen, ou genitálias, para forçá-las a se mover. Trabalhadores ainda, algumas vezes, agarram as ovelhas pela lã para empurrá-las, o que causa dor e estresse às ovelhas10.
Foi descoberto que as mudanças físicas indicadoras do estresse durante o cainho ocorrem principalmente durante as primeiras horas11. Isto pode ser observado no ritmo cardíaco dos animais. Em situações estressantes, o ritmo cardíaco da ovelha pode elevar-se e permanecer elevado por um longo período12. A frequência cardíaca aumenta de 100 a 160 batimentos por minuto quando a ovelha é colocada no veículo, e permanece nesta faixa por pelo menos 15 minutos. Durante o transporte, a frequência cardíaca elevada é mantida por pelo menos 9 horas13.
Além disso, durante caminhos longos, as ovelhas sofrem efeitos da rápida perda de peso por não terem a comida e água que necessitam e devido ao estresse da situação. Depois de viajar por 15 horas, por exemplo, as ovelhas perdem entre 5,5 a 6% do seu peso corporal14, e depois de 24 horas de viagem, 7 ou 8%15.
Assim como a maioria dos animais, suínos geralmente são levados ao abatedouro em caminhões. Um caminhão de tamanho médio pode transportar 230 suínos, mas cada suíno tem apenas meio metro quadrado de espaço em média. Isso cria uma situação altamente estressante devido à falta de espaço, levando a conflitos e comportamento agressivo entre os animais devido à mistura de famílias diferentes em condições apertadas16/sup>.
Vários estudos mostram que, assim como para as ovelhas, o período mais estressante da viagem para os suínos é a carga e a descarga17. A frequência cardíaca de um suíno aumenta significativamente quando é colocado no caminhão, diminui gradualmente quando ele se acostuma a estar no veículo, e então dispara novamente durante a descarga, indicando que tanto a carga como a descarga são processos estressantes18.
Estas mudanças na frequência cardíaca são resultado dos esforços físicos de quando o suíno é forçado a subir no veículo e do efeito psicológico de ser removido da pocilga. Quando o suíno é removido da sua pocilga, ele está sendo levado do único lugar que ele conhece para um novo ambiente e misturado com indivíduos desconhecidos.
Suínos têm uma grande dificuldade para subir rampas. Há estudos que mostram um aumento na frequência cardíaca por um fator de 1,65 quando eles são forçados a subir uma rampa. Trabalhadores normalmente usam aguilhões ou martelos para forçá-los a subir a rampa para dentro do caminhão. O uso de aguilhões pode causar um aumento ainda maior na frequência cardíaca19.
Devido a cruzamentos, existe um gene recessivo em suínos chamado de ‘halotano’ que aumenta a suscetibilidade ao estresse. Os suínos que têm este gene são especialmente suscetíveis e sentem maior ansiedade durante o transporte.
Estima-se que 170.000 suínos morrem a cada ano e 450.000 tornam-se inválidos devido a ferimentos causados durante o transporte apenas nos Estados Unidos20.
Bois são normalmente transportados em caminhões ou trens. Eles podem ser transportados em pares ou grupos. Em um estudo de uma viagem de 24 horas, foi observado que bois transportadas em pares (em caixotes) tendem a colapsar no chão mais rapidamente que aqueles em grupos21. O movimento do veículo pode resultar em pancadas contra os caixotes ou em animais caindo em cima uns dos outros, causando ferimentos nas patas, quadris ou joelhos.
Bois adultos preferem ficar em pé durante a viagem22, mas podem perder o equilíbrio. Devido a isso, as quedas afetam especialmente os animais na parte superior do veículo. Além disso, é provável que muitos caiam devido à fadiga. Estudos sobre animais que pesam entre 570 e 600 kg mostram que eles começam a cair entre a 14ª e a 16ª hora da viagem, se houver espaço suficiente23; mas frequentemente não têm esse espaço.
Bezerros também ficam muito estressados durante o transporte, especialmente quando foram criados em jaulas individuais em vez de currais, por conta das condições lotadas e do contato próximo com animais que não conhecem. A combinação dos estressores que ocorrem no transporte para o abatedouro são exacerbados em bezerros que foram desmamados logo antes de serem transportados, devido à ausência do leite e do cuidado materno24. Bezerros criados em jaulas individuais também mostram dificuldades para subir a rampa do caminhão.
A mistura de bois e bezerros de grupos diferentes pode levar a brigas entre eles, tornando uma situação ruim ainda pior25.
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2 Newberry, R. C.; Webster, A. B.; Lewis, N. J. & van Arnam, C. (1999) “Management of spent hens”, Journal of Applied Animal Welfare Science, 2, pp. 13-29.
3 Gregory, N. G. & Wilkins, L. J. (1989) “Broken bones in domestic fowl: Handling and processing damage in end-of-lay battery hens”, British Poultry Science, 30, pp. 555-62.
4 Knowles, T. G. & Broom, D. M. (1990) “The handling and transport of broilers and spent hens”, Applied Animal Behaviour Science, 28, pp. 75-91.
5 Swarbrick, O. (1986). “The welfare during transport of broilers, old hens and replacement pullets”, em Gibson, T. E. (ed.) The welfare of animals in transit, London: British Veterinary Association Animal Welfare Association, pp. 82-97.
6 Warriss, P. D.; Bevis, E. A.; Brown, S. N. & Edwards, J. E. (1992) “Longer journeys to processing plants are associated with higher mortality in broiler chickens”, British Poultry Science, 33, pp. 201-206.
7 Gregory, N.G. & Austin, S. D. (1992) “Causes of trauma in broilers arriving death to poultry processing plants”, Veterinary Record, 131, pp. 501-503.
8 Mitchell, M. (1992) “Indicators of physiological stress in broiler chickens during road transportation”, Animal Welfare, 1, pp. 91-103. Freeman, B. M.; Kettlewell, P. J.; Manning, A. C. & Berry, P. S. (1984) “Stress of transportation for broilers”, Veterinary Record, 114, pp. 286-287.
9 Knowles, T. G. (1998) “A review of road transport of slaughter sheep”, Veterinary Record, 143, pp. 212-219.
10 Farm Animal Welfare Council (1994) Report on the welfare of sheep, London: MAFF Publications. Knowles, T. G.; Maunder, D. H. & Warriss, P. D. (1994) “Factors affecting the incidence of bruising in lambs arriving at one slaughterhouse”, Veterinary Record, 134, pp. 44-45.
11 Broom, D. M.; Goode, J. A.; Hall, S. J. G.; Lloyd, D. M. & Parrott, R. F. (1996) “Hormonal and physiological effects of a 15 hour road journey in sheep: Comparison with the responses to loading, handling and penning in the absence of transport”, British Veterinary Journal, 152, pp. 593-604.
12 Parrott, R.F.; Hall, S. J. G. & Lloyd, D. M. (1998) “Heart rate and stress hormone responses of sheep to road transport following two different loading responses”, Animal Welfare, 7, pp. 257-267.
13 Parrott, R. F.; Hall, S. J. G.; Lloyd, D. M.; Goode, J. A. & Broom, D. M. (1998) “Effects of a maximum permissible journey time (31 h) on physiological responses of fleeced and shorn sheep to transport, with observations on behaviour during a short (1 h) rest-stop”, Animal Science, 66, pp. 197-207.
14 Broom, D. M.; Goode, J. A.; Hall, S. J. G.; Lloyd, D. M. & Parrott, R. F. (1996) “Hormonal and physiological effects of a 15 hour road journey in sheep: Comparison with the responses to loading, handling and penning in the absence of transport”, op. cit.
15 Knowles, T. G.; Brown, S.N.; Warriss, P. D.; Phillips, A. J.; Doland, S. K.; Hunt, P.; Ford, J. E.; Edwards, J. E. & Watkins, P. E. (1995) “Effects on sheep of transport by road for up to 24 hours”, Veterinary Record, 136, pp. 431-438.
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17 Hall, S. J. G. & Bradshaw, R. H. (1998) “Welfare aspects of transport by road of sheep and pigs”, Journal Applied Animal Welfare Science, 1, pp. 235-54.
18 Bradshaw, R. H.; Parrott, R. F.; Forsling, M. L.; Goode, J. A.; Lloyd, D. M.; Rodway, R. G. & Broom, D. M. (1996) “Stress and travel sickness in pigs: Effects of road transport on plasma concentrations of cortisol, beta-endorphin and lysine vasopressin”, Animal Science, 63, pp. 507-516. Christensen, L. & Barton-Gade, P. (1996) “Design of experimental vehicle for transport of pigs and some preliminary results of environmental measurements”, Proceedings EU-seminar: New information on welfare and meat quality of pigs as related to handling, transport and lairage conditions, Mariensee, 29-30 June, pp. 47-67.
19 van Putten, G. & Elshof, W. J. (1978) “Observations on the effect of transport on the well being and lean quality of slaughter pigs”, Animal Regulation Studies, 1, pp. 247-271.
20 Vansickle, J. (2002) “Quality assurance program paunched”, NationalHogFarmer.com, Feb. 15 [acessado em 9 de setembro de 2012].
21 Lambooij, E. & Hulsegge, B. (1988) “Long distance transport of pregnant heifers by truck”, Applied Animal Behaviour Science, 20, pp. 249-258.
22 Knowles, T. G. (1999) “A review of the road transport of cattle”, Veterinary Record, 144, pp. 197-201.
23 Tarrant, P. V.; Kenny, F. J.; Harrington, D. & Murphy, M. (1992) “Long distance transportation of steers to slaughter: Effect of stocking density on physiology, behaviour and carcass quality”, Livestock Production Science, 30, pp. 223-238. Knowles, G.; Warriss, P. D.; Brown, S. N. & Edwards, J. E. (1999) “Effects on cattle of transportation by road for up to 31 hours”, Veterinary Record, 145, pp. 575-582.
24 Trunkfield, H. R.; Broom, D. M.; Maatje, K.; Wierenga, H. K.; Lambooij, E. & Kooijman, J. (1991) “Effects of housing on responses of veal calves to handling and transport”, em Metz, J. H. M. & Groenestein, C. M. (eds.) New trends in veal calf production, Wageningen: Pudoc, pp. 40-43.
25 Mench, J. A.; Swanson, J. C. & Stricklin, W. R. (1990) “Social stress and dominance among group members after mixing beef cows”, Canadian Journal of Animal Science, 70, pp. 345-354.