Há cinco anos, em 7 de julho de 2012, um grupo grande de cientistas assinou a Declaração de Cambridge sobre a Consciência. Esta declaração indicou que não só os seres humanos, mas também um grande número de animais, incluindo não só os vertebrados, mas também muitos invertebrados, são seres conscientes.
O que isso significa é que eles são sencientes, ou seja, que têm a capacidade de ter experiências sobre tudo o que lhes acontece, e têm estados mentais, que podem ser positivos ou negativos para eles.
As evidências para apoiar essa afirmação são muito fortes. A própria declaração diz:
[O] peso das evidências indica que os humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência. Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e aves, e muitas outras criaturas, incluindo os polvos, também possuem esses substratos neurológicos.”
Isso é muito importante porque a capacidade de ter experiências positivas e negativas é o que faz que um ser possa sofrer danos. E há razões importantes para concluir que isso é o que importa para dar a alguém consideração moral, e rejeitar a sua discriminação.
Sem dúvida, todas as evidências para concluir que os animais não humanos são sencientes já existiam antes da Declaração de Cambridge sobre a Consciência ser anunciada em 2012. No entanto, essa declaração tornou possível apontar de maneira inequívoca que há um consenso científico sobre essa questão (algo que já era necessário há muito tempo). É exatamente isso que faz com que esta declaração seja tão importante.
Você pode ler o texto completo da declaração aqui:
Com certeza, cinco anos é um período curto, mas nesse período de tempo desde que a declaração foi assinada muito trabalho em defesa dos animais tem sido realizado no sentido de explicar ao público que os animais não humanos são totalmente sencientes (por exemplo, a própria Ética Animal é uma organização mais jovem do que a Declaração de Cambridge, pois começamos nosso trabalho apenas alguns anos atrás). A negação da consciência animal está começando a ser considerada equivalente a outros pontos de vista que também tentam negar posições sobre as quais há um claro consenso científico, como a ideia de evolução na biologia. Achamos que o progresso nesta matéria vai continuar a aumentar nos próximos anos, e que a consciência animal se tornará um assunto levado muito mais a sério.
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