O especismo não tem justificativa
Close-up of a hen in a cage, with her head turned to the side and one eye looking out

O especismo não tem justificativa

Como o sexismo e o racismo, o especismo é uma forma de discriminação. Enquanto o racismo e o sexismo são os tratamentos injustos de membros de certos grupos de seres humanos, o especismo é o tratamento injusto de membros de certas espécies.

Às vezes é dito que não há razões moralmente convincentes para respeitar animais não humanos. Mas, na verdade, há boas razões para concluir que a forma em que a maioria dos animais sofre e morre é injusta, e que o especismo é totalmente inaceitável. Algumas razões pelas quais o especismo não tem justificativa são dadas a seguir.

Devemos discriminar aqueles que são menos inteligentes?

Algumas pessoas dizem que não respeitamos plenamente os animais porque eles são menos inteligentes que humanos. É verdade que a maioria dos humanos tem certas capacidades que outros animais não têm. Entretanto, existem humanos que não têm a capacidade de raciocínio nem possuem qualquer tipo de cognição complexa normalmente associada com humanos, como aqueles com diversidade funcional e algumas pessoas idosas. É justo tirarmos vantagem desses humanos simplesmente porque somos mais inteligentes? É claro que não. E não é nem um pouco mais justo discriminar outros animais que não têm as mesmas capacidades que nós temos.

Aqueles que querem usar a inteligência como uma razão para não respeitar animais não humanos na verdade teriam os mesmos motivos para discriminar muitos humanos também. Há capacidades que alguns animais não humanos possuem que humanos não têm. Alguns animais são capazes de voar, possuem um sentido de olfato aguçado, ou têm a capacidade de correr em velocidades muito altas.

Ter simpatia por alguns não justifica o abuso de outros

Algumas pessoas argumentariam que é aceitável discriminar animais de outras espécies porque os humanos não têm relações próximas e afetuosas com eles. Argumentariam que os humanos têm sim relações próximas e afetuosas com outros humanos, e por essa razão não devemos discriminar outros humanos. Entretanto, também existem humanos que não têm uma relação com ninguém. Existem pessoas idosas e órfãos com quem ninguém se preocupa. Existem crianças cujas famílias estão mortas, e que estão trabalhando como escravas. As pessoas que as escravizam não se preocupam com elas. Mas isso não é uma justificativa para explorá-las. Pensamos que essas pessoas devem ser respeitadas. Achamos injusta a discriminação contra os outros que não têm nenhuma relação humana próxima. Se isso é injusto, não pode ser usado como argumento para a discriminação contra animais humanos ou não humanos.

Humanos são mais poderosos

Existem argumentos que dizem que humanos podem discriminar animais não humanos simplesmente porque somos mais poderosos que eles. Esse é o mesmo raciocínio usado para explorar e escravizar muitos humanos para o benefício dos poderosos. Se nos opomos à frase “poder faz o direito” como uma justificativa para a discriminação, então não podemos usar isso como uma razão para a discriminação contra animais não humanos mais do que podemos para a discriminação contra humanos.

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Eles pertencem a uma espécie diferente

Algumas pessoas dizem que está bem discriminar outros animais simplesmente porque pertencem a uma espécie diferente. Isso equivale a dizer que podemos discriminar outros animais sem motivo algum. Pertencer a uma espécie por si só não determina se alguém pode ser prejudicado ou beneficiado por nossas ações. Isso é determinado pelo fato de os animais poderem sentir sofrimento e desfrute ou não. Ignorar o fator mais relevante — a consciência — e usar uma classificação baseada em outra coisa é como responder “porque sim.” Esse é um tipo de raciocínio circular, também conhecido como petição de princípio. As pessoas que usam esse argumento assumem desde o início o que eles deveriam tentar provar, que como devemos tratar outros depende da espécie a que pertencem.

Se aceitássemos que podemos discriminar animais de outras espécies “porque sim”, então teríamos que aceitar qualquer outro tipo de injustiça ou discriminação pela mesma razão. Alguém que queira defender o racismo poderia também dizer que podemos discriminar humanos com diferentes cores de pele “porque sim.” Mas isso não diz nada.

O especismo é uma injustiça

Para descobrir se uma situação é injusta, podemos tentar nos colocar na situação dos envolvidos. Por exemplo, suponha que queremos descobrir se o racismo é injusto. Teríamos que nos colocar no lugar dos indivíduos afetados por ele. Teríamos que considerar não apenas as perspectivas daqueles que se beneficiam do racismo, mas também as perspectivas daqueles que são prejudicados por ele. Isso é o que a imparcialidade exige.

Se alguém que discrimina por razões racistas fosse levado a sofrer o que os discriminados sofrem, certamente seria contra o racismo. E quanto ao especismo? Devemos fazer a mesma coisa ao considerar o especismo. Devemos nos colocar no lugar dos animais que são prejudicados por ele. Não é suficiente observá-lo apenas através da nossa perspectiva. Temos que pensar sobre como é da perspectiva dos animais.

Se fossemos nós quem tivesse que sofrer o que os animais não humanos sofrem por causa do especismo, iríamos aceitá-lo?

É claro que não aceitaríamos. Nunca aceitaríamos isso se fossemos as vítimas. Se acreditamos que a justiça exige imparcialidade, então não podemos aceitar isso como algo justo. Portanto, o especismo é injusto.

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