Existem inúmeras tecnologias que podemos empregar para aprender sobre as vidas dos animais na natureza. Muitos dos métodos de coleta de dados e de sensoriamento remoto existem há décadas e são relativamente low tech, mas são ainda muito poderosos para capturar dados. Os grandes avanços nos últimos anos vieram de melhorias no machine learning e de aumentos na capacidade de processamento. Ou seja, os avanços não foram principalmente na quantidade de dados que podemos coletar, mas nos insights que podemos extrair desses dados.
Agora podemos processar quantidades massivas de dados provenientes de câmeras, sensores acústicos, imagens térmicas, amostras de DNA ambiental e outras fontes para obter novos tipos de insights e observar coisas que nunca foram possíveis antes, como identificar insetos individualmente e reconhecê-los depois. Agora também é possível modelar como várias populações de animais em um habitat afetam a presença e os números umas das outras.
A análise dos dados coletados pode nos fornecer informações sobre a presença de espécies em uma área, sobre seus números, sobre como a distribuição de diferentes grupos de animais muda ao longo do tempo e sobre os fatores que contribuem para isso. Em particular, pode nos informar sobre fatores como mortalidade, saúde e comportamento dos animais dentro de uma população. Isso nos fornece as informações de que precisamos para planejar programas para ajudar os animais. Aqui daremos uma breve visão geral de algumas dessas tecnologias para captura de dados em ambientes naturais.
As armadilhas fotográficas são câmeras com sensores de movimento que são fixadas em árvores ou colocadas em algum outro lugar no habitat natural. Elas podem tirar fotos periodicamente ou gravar vídeos em horários específicos. As armadilhas fotográficas também podem fornecer atualizações contínuas, embora o processamento dessa quantidade de dados exija muito em termos de recursos.
Elas podem coletar informações sobre a localização e o número de animais, bem como sobre seus comportamentos e condição física. As informações detalhadas e continuamente atualizadas podem nos ajudar a monitorar o bem-estar dos animais na natureza e os fatores que o afetam, como populações em rápido crescimento, a presença de outras espécies, as limitações de recursos na área e a maneira como os animais usam esses recursos.
A tecnologia de detecção e alcance de luz (LIDAR) produz imagens tridimensionais de paisagens (portanto, às vezes é chamada de “varredura a laser 3D”). O LIDAR implantado no solo ou em um veículo aéreo pode produzir imagens de alta resolução que mostram a estrutura de um habitat detalhadamente, exibindo até mesmo a posição das folhas nos galhos
Quando usado em uma grande área, ela pode não apenas detectar a abundância e distribuição das espécies, mas também capturar as propriedades físicas do habitat que as afetam. Os dados podem nos ajudar a entender as necessidades de recursos por parte dos animais na natureza e o quão adequadamente elas estão sendo atendidas.
A imagem térmica usa câmeras infravermelhas para capturar as assinaturas de calor dos animais em uma área. Ela pode determinar a presença de tipos particulares de animais e seus números populacionais, incluindo animais visualmente enigmáticos (ou seja, aqueles que são muito difíceis de detectar porque se camuflam).
Uma das coisas mais poderosas que a imagem térmica pode fazer é detectar o estresse físico, que pode ocorrer devido a uma lesão, doença, medo ou outro tipo de resposta à ameaça. Lesões locais podem ser identificadas pelo aumento do calor na área afetada devido à inflamação. A redução do calor na superfície da pele indica que o sangue está correndo para os órgãos internos – possivelmente porque a resposta de luta ou fuga foi desencadeada.
Analisar os sons dos animais e dos ambientes em que vivem pode fornecer informações sobre como são suas vidas e a taxa de mudanças nas circunstâncias em que vivem. Os dados sonoros podem ser coletados no lugar dos dados físicos e visuais ou podem ser somados a eles. As gravações de campo incluem sons “infrassônicos” e “ultra-sônicos”, ambos fora do alcance da audição humana.
Alguns deles são sons que outros animais podem ouvir e reagir; outros nos dão informações sobre as áreas onde estão localizados. Existem microfones que funcionam tanto na água quanto na terra e no céu. Podemos coletar dados sonoros que indicam a saúde, interações entre animais e mudanças nas condições de um habitat. Essa pesquisa, em combinação com o trabalho de interpretação da relação entre o tipo de vocalizações e outros sons produzidos pelos animais e seu estado de bem-estar pode ser muito útil para avaliações sobre o bem-estar.
O DNA ambiental (eDNA) é uma forma de coletar material genético em ambientes naturais, como pelos, penas, fezes e escamas de peixes – no caso de ambientes aquáticos. A coleta e análise de amostras de eDNA é um método não invasivo que não requer interação com os animais que estão sendo estudados, evitando assim qualquer impacto negativo sobre eles. Publicamos anteriormente um artigo sobre as vantagens da coleta de dados de eDNA que apresenta mais detalhes sobre esse tópico.
Examinar o eDNA nos dá informações sobre a dieta, saúde e idade de um animal. Pode nos dar informações, por exemplo, sobre se um animal está sofrendo de uma determinada doença. A coleta de amostras em uma área também pode nos ajudar a estimar tanto os tipos de animais que vivem nessa área quanto suas quantidades. Esse é um método de trabalho intensivo que não é prático de ser utilizado para obter informações detalhadas em uma área ampla. O que ele fornece é um quadro geral dos animais em uma determinada área em um determinado momento. Cientistas cidadãos1 muitas vezes ajudam a coletar o material genético e a registrar onde foi coletado.
Esta lista destacou apenas algumas das tecnologias atuais que podem ser utilizadas para a coleta de dados. Melhorias contínuas no poder de processamento de dados melhorarão nossa capacidade de usar os dados para obter insights sobre o bem-estar dos animais. Esse conhecimento tornará possível ajudá-los de maneira eficaz – por exemplo, tratando suas doenças ou fornecendo água durante as secas locais . À medida que aumenta a conscientização sobre a situação dos animais selvagens, o uso dessas tecnologias se expandirá, fornecendo informações práticas sobre como melhorar o bem-estar dos indivíduos em um habitat.
1 Ciência cidadã é a pesquisa científica conduzida totalmente ou em parte por cientistas amadores.