A Declaração de Montreal sobre a Exploração Animal

A Declaração de Montreal sobre a Exploração Animal

11 Out 2022

A Declaração de Montreal sobre a Exploração Animal é uma declaração pública feita por acadêmicos denunciando a exploração animal. Foi lançada em 4 de outubro e assinada por filósofos de todo o mundo. Afirma inequivocamente que o uso atual dos animais não humanos como recursos é moralmente censurável e deveria acabar.

Mais de 500 pesquisadores e estudiosos em filosofia moral e política de mais de 40 países assinaram a declaração. Este é um número notável de pessoas, especialmente se considerarmos que todos são especialistas em ética ou em teoria política, os campos que são diretamente relevantes para examinar se nosso relacionamento com os animais não humanos é ou não aceitável.

Nós da Ética Animal damos as boas-vindas e apoiamos essa declaração. Acreditamos que ela é, assim como argumentaram seus idealizadores (o grupo canadense de pesquisadores em ética animal – GRÉEA), um marco na reivindicação das mudanças necessárias para um futuro diferente para os animais não humanos,. Esperamos que, de modo semelhante à Declaração de Cambridge sobre a Consciência, de 10 anos atrás, ela desempenhe um papel em mostrar como nossas visões sobre os outros seres sencientes estão sendo desafiadas na academia e em outros lugares
Segue abaixo o texto da declaração.

Declaração de Montreal sobre a Exploração Animal

Somos pesquisadores no campo da filosofia moral e política. Nossos trabalhos têm raízes em diferentes tradições filosóficas e raramente concordamos uns com os outros. Concordamos, no entanto, com a necessidade de uma profunda transformação em nossas relações com os outros animais. Condenamos as práticas que envolvem tratar os animais como objetos ou mercadorias.

Na medida em que envolve violência e danos desnecessários, declaramos que a exploração animal é injusta e moralmente indefensável.

Em etologia e em neurobiologia está bem estabelecido que mamíferos, aves, peixes e muitos invertebrados são sencientes – ou seja, são capazes de sentir prazer, dor e emoções. Esses animais são sujeitos conscientes; eles têm sua própria perspectiva sobre o mundo ao seu redor. Segue-se que eles possuem interesses: nossos comportamentos afetam o bem-estar deles e podem beneficiá-los ou prejudicá-los. Quando ferimos um cão ou um porco, quando mantemos uma galinha ou um salmão em cativeiro, quando matamos um bezerro por sua carne ou um vison por sua pele, violamos seriamente seus interesses mais fundamentais.

No entanto, todos esses danos poderiam ser evitados. Obviamente, é possível abster-se de usar couro, de assistir a touradas e rodeios, ou de mostrar às crianças leões presos em zoológicos. A maioria de nós já consegue passar sem alimentos de origem animal e ser saudável, e o desenvolvimento futuro de uma economia vegana tornará as coisas ainda mais fáceis. Do ponto de vista político e institucional, é possível deixar de ver os animais como meros recursos à nossa disposição.

O fato de esses indivíduos não pertencerem à espécie Homo sapiens é moralmente irrelevante: embora possa parecer natural pensar que os interesses dos animais contam menos do que os interesses equivalentes ​​dos humanos, essa intuição especista não resiste a um exame minucioso. Tudo o mais sendo igual, a mera pertença a um grupo biológico (seja ele delineado por espécie, cor da pele ou sexo) não pode justificar consideração ou tratamento desigual.

Existem diferenças entre os humanos e os outros animais, assim como existem diferenças entre indivíduos dentro de uma mesma espécie. É certo que algumas habilidades cognitivas sofisticadas dão origem a interesses particulares, que por sua vez podem justificar tratamentos específicos. Mas a capacidade de um sujeito de compor sinfonias, fazer cálculos matemáticos avançados ou imaginar-se em um futuro distante, por mais admirável que seja, não afeta a consideração devida ao seu interesse em sentir prazer e não sofrer. Os interesses dos mais inteligentes entre nós não importam mais do que os interesses equivalentes dos menos inteligentes. Dizer o contrário equivaleria a hierarquizar os indivíduos de acordo com faculdades que não têm relevância moral. Tal atitude capacitista seria moralmente indefensável.

Portanto, é difícil escapar dessa conclusão: a exploração animal, porque prejudica desnecessariamente os animais, é fundamentalmente injusta. É, portanto, essencial trabalhar para o seu desaparecimento, sobretudo visando o fechamento dos matadouros, a proibição da pesca e o desenvolvimento de sistemas alimentares à base de vegetais. Não temos ilusão: tal projeto não será alcançado em curto prazo. Em particular, requer renunciar a hábitos especistas arraigados e transformar fundamentalmente inúmeras instituições. Acreditamos, no entanto, que o fim da exploração animal é o único horizonte compartilhado que é tanto realista quanto justo para com os não humanos.

Esta declaração também está disponível em outros idiomas, incluindo árabe, dinamarquês, francês, alemão, grego, italiano, português, russo, espanhol e turco.